O bebê nasceu. Você, que antes era uma deusa, uma louca, uma feiticeira (inclusive, tinha certeza de que esta música havia sido feita pra você), chora até em comercial do zaffari. E se resume a uma cabeça que perde 100 fios de cabelo por segundo e, os que restam, sempre estão presos. Cabelo limpo é dia de glória. E se depara com melasmas e olheiras que fazem você parecer um urso panda. Você, que nem queria seios grandes, não imaginou que o cara lá de cima, sem pedir licença, mandaria um par que mais parece um implante de silicone de mau gosto, com 500 ml de cada lado, vertendo leite e te deixando sempre com cheiro de azeda.
Isto sem falar na sensação de completa incompetência. E trago verdades: você ama seu marido, mas quer a sua mãe (conclui que pecado mesmo é não chamar a sua mãe de santa).
É, minhas amigas, o puerpério.
Quando você estava lá, fazendo ensaio gestante e planejando o quartinho, ninguém te falou sobre ele. Ninguém contou que você ia se desconstruir todinha e que ia demorar muito até se achar de novo.
Eu fui monitora de psicologia médica e um dos semestres era sobre crises existenciais. Morte, viuvez, divórcio, doenças terminais e…puerpério! Como assim? Um bebê chegando, vida nova, como colocar isto num mesmo patamar?
E aí eu virei mãe e entendi. O puerpério é o luto da mulher que já fomos e por isto ele dói tanto. Regredimos, queremos silêncio, chamamos a mãe. Estamos em luto, por nós mesmas, porque crescer dói.
Calma, você está nascendo de novo, se dê este espaço! Não se culpe se não está a fim de voltar para academia, andar maquiada, sorrir o tempo todo e abandonar o pijama.
Um belo dia, quando menos se espera, você tem vontade de pegar um sol e de ver as amigas.Talvez esteja fora de forma, mas, poxa, aquela coisinha fofa está crescendo. E você, que era tão você, virou um inseparável nós. Para sempre.
E percebe que sim, você segue sendo deusa, louca e feiticeira, mas muito melhor.
Deusa, porque gerou uma vida.
Louca, porque mataria por aquela criaturinha.
E feiticeira porque, cá pra nós, é magia acalmar em 30 segundos um bebê que está há 30 minutos berrando no colo do pai.
Bem vinda à sua nova versão!
Dra. Fernanda Mocelin – Pneumopediatra – RQE 27.163