Dra. Fernanda Mocelin

“Não se faz mais mães como antigamente!” Será?

Estes dias ouvi mais ou menos o seguinte comentário: “Não se faz mais mães como antigamente. Antigamente, as mulheres tinham 10 filhos, não tinha escolinha, TV ou celular, elas cozinhavam, limpavam e não reclamavam. Chegou a pandemia e sem escolinha as mães ficaram loucas, porque não sabem ser mãe sem escolinha.” Ou então o clássico “que horror, as mães de hoje tratam escolinha como depósito de criança!”. Ouvi, não falei nada (porque certos embates, simplesmente, não valem o gasto de saliva), mas, o que eu queria dizer é o seguinte:

Primeiramente, nunca, em nenhum momento da história, a maternidade foi tão solitária. Filhos moram em cidades diferentes dos pais. Avós são pouco disponíveis (sim, os avós trabalham hoje em dia). O casal opta por limitar a participação dos avós para que os mesmos não invadam suas vidas (sim, isto acontecia muito no passado e inúmeros casamentos tem ressentimentos não solucionados até hoje). Enfim, a verdade é que a mulher -e o pai- estão sozinhos nesta.

Não desmerecendo as mulheres do passado (eram maravilhosas!), mas, antigamente, a mulher era preparada para ser a mãe desde que nascia- já muito pequena, “maternava” com outras crianças: irmãos, primos, vizinhos. A mãe tinha sua mãe por perto, além de tias e primas. Tinha os filhos mais velhos que cuidavam e brincavam com os mais novos. Tinha casa, tinha grama e barro, tinha céu e tinha espaço (que na minha opinião, é bem mais entretenimento do que celular). Não tinha violência, medo de assalto e sequestro relâmpago. E, realmente, a escolinha não se fazia tão necessária. Não era um serviço essencial.

Na nossa geração, a mulher foi preparada para ser homem: ir para o mercado de trabalho, ser competitiva e ganhar como eles (e viva o matriarcado!). A mulher feminina, fêmea, quase foi ridicularizada. Perdeu espaço. E importância.

O resultado disso é que a maternidade é solitária. Deliciosa, instigante, instintiva. Mas assustadora. Engraçado que sempre (SEMPRE) que abordo a solidão das mães no consultório, elas começam a falar sem parar. Algumas agradecem por eu falar sobre e reconhecer que sim, a maternidade moderna é dolorida. A rede de apoio, na maior parte dos casos, é somente os maridos (isto quando o pai é bom e participativo). Ninguém fala com a mãe (com o casal) sobre o medo, a falta de preparo, a amamentação real, a libido que cai durante a amamentação, o cansaço, a sensação de incompetência.

A consulta com o pediatra tem que ser muito mais que pesar, medir e orientar vacinas e dieta. O pediatra precisa ajudar, antes de mais nada, a mãe. Ele tem que ser refúgio e suporte para que a mãe exerça a melhor maternidade possível!

Ah! E sim, a escolinha funciona como rede de apoio da maioria das mulheres. E isto não é feio, ok? E as mulheres de antigamente não reclamavam… Mas será que eram tão felizes assim? Será que estavam emocionalmente bem e equilibradas para formarem crianças seguras e psiquicamente saudáveis? Cada maternidade, uma realidade. E para quem é mãe: não tenha medo de pedir ajuda! Um beijo!


Dra. Fernanda Mocelin – Pneumopediatra – RQE 27.163