Nossas crianças estão pagando o preço da desinformação. E não venham me dizer que passar seis meses sem aula não é politicagem pesada. Só esta semana, atendi:
Caso 1. Menino de 10 anos, vindo de outra colega pneumo, em uso de spiriva e seretide, sem melhora da tosse, em tratamento desde julho.Tosse iniciava no final da tarde. IgEs normais, espiro normal, consulta com gastro excluiu refluxo. Mãe entra no consultório dizendo que sou a última esperança, pois a mesma está tomando rivotril para aguentar o filho tossindo. Após anamnese detalhada, percebo que a tosse era relacionada aos momentos em que o menino jogava videogame (principalmente à noite). Retirei o spiriva, mantive seretide (por ora), mas a principal prescrição médica foi parar com o videogame e sair para brincar todos os dias. Mãe voltou ontem no consultório, antes do prazo combinado, para dizer que o filho nunca mais tossiu. Nenhuma vez.
Caso 2: Adolescente de 13 anos, chorosa, nitidamente ansiosa. Há seis meses sem pisar fora de casa (a consulta foi online). Chora cada vez que a mãe sai para ir ao super, tem medo que a mãe adoeça. Há 6 meses sem ver nenhum outro adolescente.
Caso 3: Criança de 5 anos. Aumentou 6kg e faz “greves” de fala: opta por passar alguns dias sem falar e depois volta. Tentei de todas as formas dialogar com a mesma na consulta e só obtive um olhar vazio. Nenhuma palavra. Nem um meio sorriso. E olha que sou boa em bater papo com crianças!
Caso 4 (este foi de uma conhecida): criança de 10 anos com enurese. Questiono a mãe: criança passa o dia no videogame, jogando online, junto com o pai (que também comprou um videogame na quarentena- oi?-). Mãe refere que o menino tem vários tremeliques e “surtos” durante os jogos, mas ela não tem o que fazer porque trabalha o dia todo para sustentar a casa e não consegue controlar o uso dos eletrônicos.
Estes casos foram só esta semana.
Sem falar no absurdo (ALARMANTE) aumento nos casos de abuso infantil, violência contra a mulher, violência contra o idoso e abuso de drogas ansiolíticas.
E estamos falando de uma doença que acomete menos de 1% da população pediátrica.
Dra. Fernanda Mocelin – Pneumopediatra – RQE 27.163