Dra. Fernanda Mocelin

Vida sexual após a chegada do bebê

Então, um belo dia, o seu médico diz que você pode (e deve!) retomar a vida sexual.

Você olha para os lados e vê se não estão te filmando: só pode ser uma pegadinha, daquelas bem de mau gosto. Este médico está ficando louco e, no mínimo, não está respeitando o juramento que fez na formatura (aquele, de Hipócrates, que fala em não causar o mal).

E é isto. Você nem lembra direito do seu próprio nome e o médico diz que está tudo ok e que dá para retomar “as coisas”.

Acaba a consulta. O maridão nem fala nada, mas te olha com um olhar animado.
Você, por outro lado, fuzila o marido com olhos: sério mesmo que este cara tá a fim de transar? E ao mesmo tempo pensa: poxa, ele é tão parceiro, merece meu esforço.

Sim, porque é um esforço, para a maioria das mulheres.

Inicialmente, porque não há clima. Qualquer música mais alta pode acordar o bebê e o vinho tem que ser bem comedido, quando não, eliminado. Segundo, você precisa manter a sua dignidade e para isto aconselho fortemente o uso de sutiã no ato, full time. E, para quem amamenta exclusivo, está indicado não esquecer o lubrificante. Ah! E você está cansada. CANSADA, entendeu? O auge do tesão para você seria uma panela de brigadeiro com um This is Us na TV.

A retomada da vida sexual do casal não é nada simples. Envolve questões fisiológicas. A natureza organiza seu corpo para cuidar do bebê e não para engravidar novamente. Em linhas gerais, a amamentação libera prolactina, que impede a liberação do estrogênio, aquele hormônio amigo das mulheres e responsável pelo desejo sexual. Existem exceções, é claro, mas a maioria das mulheres tem alterações importantes na libido. Juntamos à isto o fato de que somos nós que cuidamos do bebê. Por mais maravilhoso que o parceiro seja, o bebê é da mãe, o bebê quer a mãe. E ponto.

Então, papai, fique sabendo que será preciso paciência. Neste época, mais do que nunca na vida, elogios são necessários. De hora em hora, se possível. Mande mensagens carinhosas, mostre que você se orgulha dela. Compre presentes. Cozinhe. Tenha interesse real no dia dela, mesmo que seja ela contando sobre quantas vezes o bebê fez cocô.

Massageie o pescoço. E diga que você não tem pressa, mesmo que tenha. Porque, meu querido, seus lindos olhos de nada irão servir se você não estiver vivendo isto junto. E ela vai sentir. Vai retribuir este respeito. E ela vai te amar mais. E mais. E mais.

E, devagarinho, o desejo surge de novo. Se houver parceria, ele surge de novo. Diferente, desajeitado, espiando pela porta, quase pedindo desculpa pelo período de remissão, mas está aí de novo. E você entende o porquê chamavam Cazuza de poeta… É, o nosso amor a gente inventa (e reinventa, se Deus quiser)!


Dra. Fernanda Mocelin – Pneumopediatra – RQE 27.163