Dra. Fernanda Mocelin

Carta para um papai recém-nascido

Eu sei, eu sei. Você estava apaixonado por aquela barriga e conversava com ela. Você odiava tirar foto, mas até fez aquele ensaio gestante (e até que curtiu). Já imaginava o menino te chamando de herói e o coração chegava a palpitar ao pensar na cena da menina pulando no seu colo.

E aí você acordou.

E o que viu é um bebê que chora e que não está nem aí pra você. Somado à isto, de brinde, vem uma mulher que você não reconhece: a criatura oscila choro fácil com humor de búfalo desgovernado. Além do mais, você tem certeza de que a escravidão voltou, pois passa as 24 horas do dia recebendo ordens e não ganha nem um sorriso em troca. Calma. Conte até dez, obedeça e entenda: não é fácil virar mãe. Bem vindo ao mundo real.

Sei que você nunca se sentiu tão sem talento (talvez na pré adolescência, mas, cá pra nós, é melhor nem lembrar desta fase). E também não está achando justo o bebê dormir facilmente com aquela megera sem coração e não se acalmar de jeito nenhum com você, que está ali, todo zen e cheio de amor para dar.

Mas, acredite, é nesta fase que o vínculo acontece.

A melhor maneira para se inserir nesta relação tão íntima, que é a relação mãe- bebê, é cuidando da mãe. Ao aliviar a carga da mãe, você assume o seu papel.

Mostre que você quer dar o banho, mesmo que você seja todo atrapalhado. Fique com o bebê para que a mãe durma sem o assombro do suspiro vindo do bercinho. Troque muita fralda. Admita que você não é tão eficiente, mas que está cheio de boa vontade. Você nunca será como a mãe (e nem deve)! Você será PAI.

Pode ter certeza de que as histórias mais engraçadas é você que irá contar. E que as brincadeiras mais emocionantes sempre (SEMPRE) serão as que você inventa. Enquanto a mãe é segurança, você é expansão. É o pai quem apresenta o mundo para a criança, quer coisa mais linda e cheia de significado?

E então, de repente, aquela dupla que parecia tão autossuficiente, já não sabe viver sem o terceiro elemento: você! Porque família não nasce na gravidez ou no parto. Viramos família quando dançamos a mesma música. E para acharmos o ritmo, o pai tem que querer. E a mãe tem que deixar.

Por favor, vamos tornar isto simples!