Dra. Fernanda Mocelin

Birras dicas para não enlouquecer

Sabe aquela frase “Me ame quando eu menos mereço, pois é quando eu mais preciso”? Pois é, lembre-se dela quando estiver prestes a surtar com seu filho.

Você sobreviveu à gestação, parto, puerpério e privação de sono. Você acha que nada mais pode te desestabilizar. Errou, amiga: as birras chegaram.

Final do dia. Criança cansada. Surta porque não quer ir pro banho, surta porque não quer sair do banho, surta porque está com fome e surta porque não quer mais comer. E você só tem uma certeza: algum vizinho vai ligar para o conselho tutelar, porque é impossível acreditar que aquela criança não está sofrendo maus tratos.

Uma dúvida super comum no consultório é: como lidar com as birras?

As birras existem porque há uma incompatibilidade entre a parte motora (em plena ascensão) e a parte neurológica (ainda imatura e incapaz de lidar com frustrações). A criança não é tirana e, por favor, você não é uma mãe incompetente.

Existem algumas abordagens que ajudam. Nomear as emoções. Mudar o foco. Não fazer longos discursos durante a crise, eles não vão ouvir nadinha. Abordar o acontecido depois, quando a criança estiver calma e receptiva. Reduzir as telas. De novo: reduzir as telas. Eliminar causas como sono e fome. Ter uma rotina, porque isto reduz a ansiedade. E uma muito importante: quando perder a paciência, pedir desculpa. Pedir desculpa é ensinar sobre humildade e vulnerabilidade. A vulnerabilidade nos torna confiáveis. E nossos filhos precisam confiar na gente.

Cada vez que tiver vontade de gritar com aquela criança, olhe para dentro. É realmente com aquele serzinho que você quer gritar? Ou será que esta cena mexe com problemas lá da sua infância? O que a birra está despertando? Raiva por perder o controle? O seu grito é o grito da sobrecarga? Questione isto antes de perder a calma. Ajuda muito. Na maternidade, nossos dramas inconscientes vêm à tona em situações do dia a dia e muitas vezes não controlamos isto. Se perdoe. E peça colo.

Cada fase merece ser vivida. Não fique contando os dias para acabar. E que tenhamos inteligência suficiente para aprender com os nossos filhos. A maternidade é terapêutica, se tivermos coragem de abrir espaço para isto.


Dra. Fernanda Mocelin – Pneumopediatra – RQE 27.163